domingo, março 28, 2004

Horário

Porque é que escrevo à noite e de dia também? É porque à noite eu não tenho sono. E de dia também não tenho. Sempre que à noite me apetece escrever sento-me no Word e teclo. Faço-o sempre com letras pretas sobre folhas brancas. De dia também faço isso, excepto ao lusco-fusco. Ao lusco-fusco utilizo um bloco de notas e uma máquina fotográfica. Então faço das palavras a minha noite. Porque durante o dia falo. À noite não. Só me apetece dizer até amanhã. Mas às vezes, está errado porque nesse dia à noite já é amanhã. È por isso que faço das minhas noites, por vezes dias inteiros. E é nessas alturas que eu digo que só escrevo à noite e de dia também. Porque de dia não há nada para escrever. Aquilo que se escreve de dia já é antigo à noite. Aquilo que se escreve de noite é novo de dia. Eu gosto de coisas novas. Quantas pessoas se lembram quanto tempo demoraram ontem de manhã para ir de casa ao emprego? Isso foi ontem demanhã. Mas de manhã quase todos sabem a que horas se deitaram ontem à noite. É também por isso que a noite é mais fascinante que o dia. Se houvesse Sol à noite, então, a noite ainda seria mais bonita. Porque as cores realçam mais com o Sol. Excepto as cores da noite. As cores da noite também são mais bonitas que as cores do dia. Porque de dia não há preto e branco. E por não haver preto e branco a escrita é mais triste de dia. Porque é uma escrita a cores e eu não sou pintor. Hoje os relógios roubaram uma hora à minha noite.

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