quinta-feira, setembro 02, 2004

560. Cinco Dias

Invadia-te a casa, o teu espaço, o teu canto. E tu invadias-me de tremores, de emoção, de desejos (mantêm-se intactos, em novas dimensões). Nunca te admiras dos meus espelhos pois sabes que sempre foram meus cúmplices. E teus cúmplices. Eram testemunhas mudas, de incalculável prestabilidade. Eram eles que permitiam que os cantos dos nossos olhos se apercebessem dos intrusos, dos vigilantes, dos desmancha-prazeres. Exacto, esta é a palavra-chave, a verdadeira. Desmancha-prazeres. E no quase silêncio da noite quando os espelhos não mais são precisos, os perfumes que a libido exala, o quase silêncio quebrado pela respiração que se ouve, alterada, arrítmica, sensual, e uma mão na boca tentando vedar sons que não se podem ouvir, numa censura de coronéis. Uma mistura extrema dos sentidos. O tacto, o veludo do teu corpo (nunca chegamos a acordo; és tu que dizes que as minhas mãos são aveludadas; eu nego; é a tua pele, veludo, cetim, seda pura). Depois…depois o ajeitar dos corpos, o olhar maroto de olhos trespassando olhos e o rubor que se esvai. E os espelhos mudos. No fim banhávamos a atmosfera com uma musica calma que saía da rádio. Ou que sempre lá esteve, sem que ninguém desse por isso. E se havia lua íamos observá-la. As estrelas que no seu brilhar pareciam ensaiar uma dança silenciosa, tinham sido observadas momentos antes. Momentos. Faltam 5 dias.

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