segunda-feira, setembro 06, 2004

565. Véspera

Ela irá com um vestido branco. Uma coroa de brilhantes na cabeça. Um bonito boquet de flores vermelhas na mão. Eu não a vi ainda. Dizem que dá azar. Vou esperá-la à porta da igreja. Não irei de calções e pólo. Os meus pais não iriam achar piada nenhuma. Ela abanaria a cabeça e gritaria lá do fundo: Maluco! Como ela costuma reagir ás minhas extravagâncias. A minha mãe ofereceu-me um fato azul. Com colete e tudo. A camisa é branca e a gravata de um cinzento claro. Formal, mas discreto. Aos convidados foi-lhes dito que o traje era “business casual”. Nada de cerimónias. Se pudesse teria eu próprio ido de calções. Estava um calor quase tropical. Ela vinha deslumbrante. Não mais bonita do que era. Mas bonita de morrer. Queria poder tê-la possuído logo ali. Mas havia testemunhas demais e nenhuma era luar. A igreja irá ser engalanada esta noite. Com flores, para receber uma flor. Perfumarão as galerias de mil cheiros que os perfumes das damas e as águas dos cavalheiros não se sobreporão. Apenas uma flor cheirará mais bem. Curiosamente não estou nervoso. Apenas me vou “esquecer” de cortar a barba, mas não irei de calções. Um padre irá abençoar as alianças, mas a aliança fi-la eu com ela. Até que a morte nos separe. Tocará uma música nupcial quando ela entrar. A música é só para ela, eu não ouvirei os sons, seguir-lhe-ei os passos, compassados e o sorriso. Será amanhã.

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