quinta-feira, dezembro 24, 2009

1510. Feliz Natal

De arco-íris e negros céus

Se fazem tempestades,

E os gatos ronronam

Em tapetes persas.

As tonalidades e murmúrios de Hossanas

No teu céu, são mundo meu e

Eu te amo.

Cerraste janelas e a noite

Invadiu o teu corpo de desejos.

Era frio e Natal.

E nós envoltos

Num presépio de afectos.


Foto PreDatado©, Dez 2009, Achada, Açores


O vosso amigo Pre vem por este meio comunicar, a todas as interessadas e a todos os interessados nesta quadra festiva, que lhes deseja um Feliz Natal de muito amor e de Paz. E para aqueles e aquelas que são cristãos como o Pre e para aqueles e aquelas que o não são, que Deus vos abençoe.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

1509. Conforto

Ainda não está muito frio, embora lá no interior do Alentejo as noites já comecem a ser fresquinhas. Mas que dá cá um conforto ter o lume aceso, ah isso dá. E até se assam castanhas. Vai um tintinho?

terça-feira, novembro 24, 2009

1508. Mestria e champanhe

Nem eu, nem a minha mulher fomos ou somos pessoas de nos imiscuirmos nas grandes opções dos nossos filhos. Contudo, sendo nós mais velhos, o que aliás, geneticamente falando, não poderia ser de outro modo, teve a experiência a gentileza de nos dotar de instrumentos, que poderemos chamar de úteis, para que, de alerta em alerta, os pudéssemos utilizar, não no sentido do proteccionismo, mas sim no da orientação em momentos de alguma fragilidade (deles) e também no do ensinamento na destrinça do que poderia ter ou não efeitos perniciosos no seu desenvolvimento. Posto isto, não fica difícil de perceber porque é que cá em casa há adeptos de diferentes clubes de futebol, porque é que a opção político-partidária não goza de unanimidade, porque é que temos visões diferentes das religiões ou porque é que uns preferem Radiohead e outros Caetano Veloso e por aí a fora, fico-me por aqui para poupar-vos à, sempre difícil, digestão dos textos corridos do PreDatado. Mas se por um lado tudo acima é verdade (juro mesmo, absoluta), também é verdade que nem só de pragmatismos vive o homem (tomem lá esta) e nunca lhes faltou um colo, um ombro, um abraço, um mimo, um carinho, uma ternura em todos os momentos que não só os necessários. Foi neste misto de afectividade e de céu estrelado, com algumas nuvens a vislumbrarem-se no horizonte (poeta!) que foram calcorreando as ruas do futuro, o qual lhes foi também ensinado que cada dia é o primeiro dia do mesmo. E hoje começa um novo futuro para o meu João Pedro. O meu filho, o meu menino, fez hoje a apresentação e dissertação da sua tese de Mestrado em Arquitectura. É um Mestre nesta arte, que a de gerir todas estas emoções mesmo que com a ajuda de um lenço para lhe afagar aquela teimosa lágrima que não para no canto do olho, mestre mesmo é o pai dele. Para ti meu filho, é hoje a taça de champanhe que eu levanto e, quando tomares a próxima decisão avisa-me que eu sou todo ouvidos.

sexta-feira, novembro 13, 2009

1507. Molhar a minhoca, diz ele

Jaquinzinhos com arroz de tomate, bacalhau à lagareiro, arroz de tamboril com gambas, sardinha assada na brasa, salmonetes na grelha, caldeirada à fragateiro, sopa rica de peixe, salmão fumado com cebolinho, gambas à la planche, amêijoas à bolha pato, salmão marinado com gengibre, pargo no forno à moda da avó maria, mexilhões à marinheiro, fataça na telha à moda do ribatejo, cachuchos fritos com arroz de grelo, pregado frito com açorda, peixe assado no forno com tomate, cebola e salsa, bacalhau à brás, pescada cozida com feijão verde, tímbalo de polvo, chocos assados com e sem tinta, caldeirada de lulas à moda da nazaré, espetada mista de tamboril com camarão e pimentos, lulas recheadas, bacalhau à moda de lafões, sopa de peixe à moda da costa verde, filetes de polvo com arroz do dito, pescada à florentina, vieirinhas recheadas, lagosta suada, lavagante na chapa, ostras frescas abertas ao natural com sumo de limão, açorda de sável à ribatejana, sopa de cação, achegãs de caldeirada em forno de lenha, bacalhau espiritual, espetada de lulas com chouriço, rissóis de camarão, safio com ervilhas à moda da póvoa, fritada mista de peixinhos do rio, carapaus alimados, escabeche de carapaus fritos de um dia para o outro, arroz de sardinhas à algarvia e não me venhas cá tu, grande rafeiro, dizeres que passavas bem com uma sandocha de couratos. Dedica-te mas é à pesca. E podes levar a tua jove contigo que ela ajuda-te a pôr a minhoca no piercing.

quinta-feira, novembro 12, 2009

1506. Rotinas

Vão chegando, entre as seis e as sete, juntam-se no muro com uma mini na mão. Como se fossem um bando de estorninhos que atacam a oliveira. Depois de um largo linguajar, os apertos de mão, dão meia volta e regressam ao lar. No muro fica a fila de garrafas que o tasqueiro, solicito, deita num balde. Amanhã sairá nova rodada. Até que o inverno chegue.

Fico na varanda a vê-los chegar, agora mais cedo porque a hora mudou. Para nós, não para eles, para eles o que muda é o tamanho do dia, o menor intervalo entre a manhã e a noite. Regressam em bandos às árvores, num estranho linguajar feito de chilreios. Não sei se me parecem estorninhos ou se o são.

Agasalhados, porque o vento ribeirinho corta, saímos todos como se fossemos um bando (de estorninhos?) do vapor – já ninguém lhe chama vapor, gente de outras gerações que têm catamarans de usufruto - na outra margem. Acenam em linguajares de até amanhã, de espere aí, de que chatisse, perdeu-se o autocarro, perdeu-se o metro, numa correria de horários. Aconchega-se o cachecol ao nariz, porque o vento ribeirinho corta. Amanhã, pela manhã, quer a luz do alvorecer raie ou não, abandonaremos a árvore e sairemos para os nossos campos (como estorninhos?) à espera de vindouros invernos.

Corta!

(gostaria de conhecer o autor da foto para lhe prestar os devidos créditos, mas infelizmente encontrei-a na net sem referência ao autor)

domingo, novembro 08, 2009

1505. Felicidade


Dizem que não se podem, ou melhor, que não se devem começar textos por determinadas palavras mas apetecia-me começar este por, Até S. Pedro se quis associar à tua festa, pois, na verdade, após os dias invernosos que se fizeram sentir desde meados da semana passada, continuado neste chuvoso dia de hoje, ontem o Sol resplandeceu maravilhoso para te ver sair, deslumbrante, de casa dos teus pais, a caminho de uma nova vida que te auguro risonha, por quem és e porque o mereces e, quem assistiu e testemunhou ajudou-me a encher o ego de pai (estou que nem posso) ao me fazerem saber que foi linda a festa, Anita.

Sabes minha filha, ontem, quando te conduzia na passadeira para “te entregar” ao teu noivo, mordi várias vezes o lábio inferior para que não me viessem aos olhos as pieguíssimas lágrimas, que conheces bem, mas que hoje, ao lembrar-me que vais sair deste ninho para fazeres o teu próprio não as consegui segurar, mas não te preocupes, porque se nisto há um não sei quanto de nostalgia ele há, e aí posso te garantir, um trilião de vezes mais de alegria e sabes porquê, Anita? porque eu te amo.


sexta-feira, novembro 06, 2009

1504. Ye Monks. Champanhe é amanhã

Em 1979, era eu um embarcadiço, assim como que armado em marinheiro (não gostava de whisky) pensava e repensava onde é que havia de gastar o dinheiro que ganhava, não muito diga-se de passagem, não havia centros comercias, o Colombo mais próximo que conhecíamos era um antepassado nosso, também marinheiro e, em Gaia, só passeavam rabelos, que petroleiros daquela envergadura só até ao Mar da Palha, mas isso já é Tejo, são outras águas (põe-se água no whisky, não é?), pois shoppings não havia desses, dos que há agora e então gastava-se o dinheiro na cantina (oh Felix abre ali a tasca que preciso de cervejas) mas era só a partir das quatro e picos quando o tasqueiro largava o quarto do meio-dia, também se encomendavam, através da cantina, ao ship chandler, alguns artigos de luxo (um dia levei uma rabecada por misturar coca-cola num Chivas Regal) entre eles uns sabonetes que só muitos anos mais tarde se começaram a vender por cá e até whiskies (uma queixa crime de quem não o beber puro) de maior prestígio.

Um certo dia (não me atrevo a fazer qualquer mistura) ainda eu não bebia whisky e a minha bolsa não dava para comprar o Royal Salut em bolsa de veludo azul gravada a dourado, comprei uma Ye Monks em garrafa de porcelana, whisky de 12 anos que hoje, passados que são (nem pensar em deitar-lhe água castelo, quanto mais coca-cola) todos estes 30 anos, já estará com os seus 42, já as vi à venda na net por 200,00€, portanto um bocadinho mais velho que alguns dos meus leitores e das minhas leitoras, mas tu nem gostas de whisky e isto custa um balúrdio, portanto vai ser aberta quando se casar o meu primeiro filho e vai daí foi preciso casar entretanto, ir aprendendo a gostar de whisky (uma pedrinha só), esperar os nove mesitos que essa coisa do pré-natal demora e toma lá que é uma menina linda, linda, linda.

Hoje, mais logo pela tardinha, vou abrir a Ye Monks. A Anita casa amanhã, Sábado, e Sábado é mais dia para champanhe do que para (o quê, água lisa, gelo? nem pensar) whiskies. E cá estarão alguns amigos para me acompanhar num brinde à minha filha, ao seu marido e ao seu novo futuro.

No Sábado jorrará champanhe!

(coca-cola, tás mas é maluco)

quinta-feira, outubro 29, 2009

1503. Reflexos de mim mesmo




- Seis anos depois e estás na mesma,

disse-me logo pela manhãzinha, mal me aproximei

- Na mesma como?

indaguei-o, pois não sabia (se calhar sabia, mas não me inteirei de imediato) do que estava a falar

- O mesmo rosto, o mesmo estilo, não mudaste nada

pensei que me estivesse a chamar conservador, no seu jeito meio sarcástico que às vezes chega a ofender, mas desta vez acabei por o perceber mais rápido do que o habitual

- É imagem de marca

disse-lhe com um sorriso

- Então, parabéns!

pareceu-me sincero, tenho de confessar

- Obrigado

respondi-lhe enquanto o via voltar-me as costas com uma flute na mão

(o meu espelho, quando se trata de comemorar o aniversário de O PreDatado, nem repara que não é costume, cá em casa, beber-se champanhe logo pela manhã)

sábado, outubro 24, 2009

1502. Não fiquei chateado

Eu gostava de conseguir fazer-me entender pelas minhas amigas leitoras e pelos meus amigos leitores quando tento justificar ausências tão prolongadas da blogosfera e sei que nem sempre o consigo. Na realidade, quem vai fazer dentro de uma semana seis anos de escritos bloguísticos predatados deveria ter outras obrigações, sei lá, mais responsabilidade perante quem se sacrifica tanto, quem chega mesmo a trocar um dia de praia, umas horas no SPA, vá lá, uma sandes de presunto ou até mesmo dois rissóis de camarão para vir aqui ler O PreDatado e, nada. Mas hoje competia-me no mínimo dar esta satisfação pública. Eu não tenho vindo aqui escrever por outras razões e não, como já alguém insinuou, por ter ficado chateado por não ter sido convidado para ministro do novo governo. Não estou chateado por não ter sido convidado para ministro, repito, pronto! Não estou chateado, bolas! Até porque se o tivesse sido não teria aceitado. E perguntam-me nesta altura da leitura as minhas amigas leitoras e os meus amigos leitores porque é que não fiquei chateado assim tipo: Pre, Prezinho (isto eram as amigas), porque é que não ficaste chateado? E aí eu respondo, porque na semana passada casou a minha sobrinha Sara e eu comprei uma gravata nova para ir ao casamento dela, daqui a pouco está a casar a minha Anita e eu também já comprei uma gravata nova para ir ao casamento dela. E vós achais que eu sou rico, sou? Pareceria bem eu tomar posse como ministro de gravata nova, não é verdade? E eu ganho lá para isso, hein? É que nem com a venda dos porcos, das vacas cor-de-rosa e das pomegranate trees, da minha famville lá no facebook se consegue auferir para tanta gravata.

terça-feira, outubro 20, 2009

1501. Gravata verde

Eu não sei e, confesso, nunca investiguei porque é que quando alguém pensa que poderá passar por uma grande vergonha utiliza a expressão “eu pintaria a minha cara de preto se…”. É natural que esta frase tenha conotações racistas, é também natural que não tenha, alguém que estude as frases populares que mo diga, que eu agradeço. O saber não ocupa lugar, ou ocupa mas eu acho que ainda tenho uns Gb livres. Posto isto, quem me conhece seja ao vivo e a cores seja através deste blog sabe que eu poderia utilizar esta frase e / ou outras política e socialmente menos correctas, não veria em mim qualquer preconceito racial.

Perguntais vós, amigas e amigos leitores deste blog, porque é que o PreDatado vem com esta conversa toda sobre preconceito, sendo ele um Sir, como todos o sabem. Pois meus amigos eu vou fazer a segunda confissão do dia: eu, PreDatado, Pre para os amigos e Prezinho para as amigas (já para não referir Sir Pre nos casos em que noblesse oblige) sou de facto um preconceituoso. Por mariquices que só as mulheres (quero dizer, a minha, não generalizemos) sabem a razão, devo ir a condizer com qualquer coisa, não só quando levar a minha filha na presença do representante da Lei, no dia do seu casamento, mas também e principalmente quando, em plena cerimónia, estiver lado a lado com vestido cor de esperança com que a minha cara-metade se irá apresentar. E vai daí, ontem, comprei uma gravata verde. Não vomitei na altura porque sou mais ou menos de bom estômago, mas se algum correligionário do nosso Glorioso Sport Lisboa e Benfica me fizer alguma observação jocosa lá terei de pintar a minha cara de preto. Pelo sim pelo não, vou levar, no bolsinho do colete, uma pequena bisnaga de tinta.

Imagem tirada daqui

segunda-feira, outubro 19, 2009

1500. Help me ou como quem diz dêem-me aí uma mãozinha

Um gajo passa um fim-de-semana descansado, logo iniciado na sexta-feira à tarde e senta-se à espera que lhe saia o euro-milhões que, como é mais de 76 milhões de vezes improvável, obviamente não lhe vai sair e, descansadamente também, assiste no dia seguinte a uma goleada das antigas, do seu Benfica, numa Taça de Portugal a que chamam de festa do futebol, vendo cada golo do Glorioso entre umas amêijoas à Bolhão Pato, umas gambas ao natural e um berbigãozinho da Trafaria, um paio de porco preto daqueles com 60% de desconto imediato no jumbo e um camembert com vinho tinto e, claro, sempre descansado, fica a saber que não lhe saiu, mais uma vez lhe não saiu o prémio acumulado há montes de semanas do totoloto que já vai em 7 milhões de aérios que lhe davam cá um jeito do caraças. Mas não deixa de se ir deitar descansado mesmo assim hesitando se devia de pôr um filme no leitor de DVD, ao calhas, daqueles mais de trinta a que nem sequer lhe tirou o celofane e que, sendo do ano passado já parecem ter mais barbas do que o pai natal, ou se deve ir ao corpo dar descanso para mais um domingo descansado, do qual tirando ter de fazer o almoço mexicano de fajitas e tacos, fora as entradas, se limitará a semear abóboras, a colher arroz, a plantar morangos e framboesas num novo vício chamado farmville, não é que para quebrar todo este descanso vem de lá um trojan qualquer se instala na página inicial do facebook, o avast não o deixa meter o pé em ramo verde e lá fica um gajo amputado de um membro cibernético que é o seu facebookzinho onde ele não produz grande coisa mas se entretém a espreitar e a seguir sugestões dos seus friends. Mas o pior, o pior é que este tipo que aqui escreve já lançou uma data de SOS no twitter mas parece que os seus followers ainda estão todos a dormir. E esta excitação toda à roda de um Cavalo de Tróia fê-lo sair do seu merecido descanso. Agora só lhe faltava sair a Lotaria para a desgraça ser total.

sexta-feira, outubro 16, 2009

1499. É só para facilitar a malta


Eu sei que me aburguesei (já faz uns anitos) e que um dos sinais exteriores de aburguesamento é o facto de ter passado a correr a coxia montado nos cento e tal cavalos do meu semoventezinho a quatro rodas. De vez em quando dá-me uma recaída e desato a utilizar transportes públicos onde, rara a vez em que não acontece, vou sempre tendo uma ou duas surpresinhas que dão para contar. Esta que tive hoje, naturalmente que só para um ser mal habituado é que pode ser surpresa, foi o preço do bilhete de barco para a travessia do Tejo entre o Cais do Sodré e Cacilhas. Custa 0,81€, sim, oitenta e um cêntimos. Fiquei mesmo a pensar que aquele cêntimozinho ali metido, como não dá para facilitar os trocos deve ser para o pessoal ter onde gastar o troco da carcacita que custa 13 cêntimos. Assim as duas pretinhas de sobra, dão para o bilhete de ida e volta. Está tudo pensado neste país maravilhoso.

PS. A utilização dos diminutivos anitos, semoventezinho, surpresinhas, cêntimozinho, carcacita, pretinhas não foi propositada. Eu é que sou muito meiguinho. Outro.
PPS. Sempre que vou ao Cais do Sodré (e cada vez são menos vezes) não resisto a ir ao British Bar beber um Alto-Douro. Não sei como é feita a mistura mas fresquinho sabe tão bem. Nostalgias.

Foto de jmcrosa encontrada aqui

terça-feira, outubro 13, 2009

1498. Trocas

Bem sei que não escrevo neste blog há uma data de dias e que para escrever isto mais valia estar quieto. Mas depois de ter estado mais de duas horas a ouvir um patético debate com 3 directores dos mais prestigiados jornais nacionais e um director de uma rádio especializada em jornalismo, onde não só não se esclareceu nada sobre os temas em debate como ainda mais me (nos?) deixou baralhado(s) e que terminou com a uma ainda mais patética acusação (sim acusação!), à laia de remate, do director do Expresso ao director do DN de que este teria sido jornalista desportivo (?????) acabo a noite a rir a gosto. E porquê?

Porque acabei de ler uma notícia, para mim benfiquista, saudavelmente fanático – o saudavelmente é da minha autoria e esperando que o director da blogosfera não me ache indigno de escrever num blog só porque eu gosto de desporto – que me deixou muito alegre. Então não é que José Eduardo Bettencourt vai apresentar hoje, no final da tarde, onze novos sócios do Sporting, entre eles o atleta Marco Fortes, campeão nacional do lançamento do peso, atleta este que hoje acabou de assinar contrato com o rival Sport Lisboa e Benfica? E não dá vontade de rir à gargalhada?

quarta-feira, outubro 07, 2009

1497. Tiros para o ar

- Que cara é essa? – Perguntei-lhe, pois não o costumo ver assim logo pela manhã.

- Não sei a que te referes… diferente de ontem? – Perguntou-me como se me respondesse.

- Não estás acostumado a que te interroguem, é o que é – disse-lhe eu tentando perceber o seu rosto estupefacto; definitivamente ele não estava a compreender nada.

- Olha lá – força de expressão, pensei, pois eu sempre estive a olhar – acordaste hoje com vontade de me chatear? É alguma vingança? – Voltou a interrogar-me.

(Abro aqui um parêntesis para vos relembrar que de facto é sempre ele que costuma fazer as perguntas ou, quando não, a atirar a primeira frase).

- Bom, eu vou directo ao assunto. Pareces um urso. Além dessa barba vergonhosa tens os cabelinhos todos em pé. – Agora sim, ele perdeu na antecipação. Quem me deveria estar a acusar era ele e não eu. Mas estou cansado de que em noites mal dormidas ou de estranhas condições seja eu o encostado à parede.

(deu uma gargalhada sonora e reflexiva de tal forma que o acompanhei na risota)

- Foi o vento caramba! Deves ter dormido que nem uma pedra, rapaz, não deste por nada e agora vens-me acusar de eu estar com os cabelinhos todos eriçados. – E dito isto o meu espelho tremeu, bateu ligeiramente contra a parede e por milagre não se fez em fanicos diante dos meus olhos.

(eu corri a fechar a janela).

Foto PreDatado©2009 – Vento

sexta-feira, outubro 02, 2009

1496. Olhares

O barracão pintado de castanho-escuro, feio por sinal, é o clube. Afixados os avisos, fiquei a saber que se podem tomar os pequenos-almoços ao Domingo e que em breve haverá assembleia extraordinária. Numa mesa da esplanada dois homens jogam dominó. Infeliz aquele que em três mãos consecutivas consegue tirar cinco doblas. O outro usa chapéu e tem um cigarro no canto da boca. A moça do carrinho de bebé ainda está bronzeada. Desempregada, acabou por aproveitar os últimos raios de sol de um Verão quente. A que a acompanha, também desempregada, vai fazer uma plástica às mamas e o puto é a cara chapada do pai. Isto, ouvi dizer porque o pai não estava lá. Um casal, de provável mais baixa condição chega, toma a bica e vai. Cada um que chega se cumprimenta pelo que todos conhecem todos. O homem do casal de mais baixa condição é cumprimentado por todos e acabou por ganhar um biscate de pintura. Já ganhou mais do que o das cinco doblas. O gordo tem piada e o que lê o jornal levanta os olhos e ri-se cada vez que o gordo fala. O que vê a partida de dominó toma um whisky Cutty Sark com 2 pedras de gelo preenchido com uma garrafa de Água das Pedras. Vai durar-lhe quase toda a tarde. O gordo vê o canal Entretainment e conhece a vida dos famosos de Hollywood. Continua a dizer piadas e os outros riem. A que chegou também quer fazer uma plástica às mamas. Beijam-se todos e cumprimentam-se todos mas há beijares que trazem água no bico. O da t-shirt fashion sabe-a toda e fica atento. Olha para a que tem aparelho nos dentes e de vez em quando segreda-lhe qualquer coisa. O que esteve internado, está melhor e já toma o lanche no clube. Usa blusa Lacoste que não parece ser de contrafacção. O do rabicho apanhado à Manolete (será que ele sabe quem foi, Manolete?) veste um fato cinza, de corte moderno. Aliás, os próprios sapatos são daqueles que lhe fazem um pé maior do que o do Cristiano Ronaldo. Pode ser um executivo, mas pode ser o gerente de uma loja âncora no Shopping. Bebe uma cerveja Super Bock e senta-se numa cadeira, isolado dos outros. Observa a roda de assistentes que se formou no jogo do dominó. O gordo continua a dizer piadas e até sabe o custo das viagens às clínicas de estética do Brasil. O outro arreou o Correio da manhã. Eu terminei a água do Luso e fui.

Infelizmente não sei o nome do autor da imagem que encontrei na net. I’m sorry. Nenhuma das marcas ou nomes referidos pagou pela publicidade. Mas já era tempo, hein?

domingo, setembro 27, 2009

1495. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - X

Ponto Final. O PS ganhou inequivocamente as eleições e o único partido que perdeu foi o PSD. Não pelo número de votos ou percentagem (não era difícil fazer melhor do que Santana Lopes) mas pela campanha cretina que fez. O partido em que eu votei cumpriu, tendo mais que duplicado a sua representação parlamentar, o que me deixa confortável. No entanto quero vos dizer que o entusiasmo no País, por estes resultados, não é assim por aí além. Quando o meu Benfica ganhou o campeonato, há 4 anos atrás, a festa foi muito maior.

1494. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - IX

Ainda não sabemos os resultados finais mas até agora, embora não dê para champanhe, dá pelo menos para um whisky. Quando acabar eu venho fechar isto.

1493. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - VIII

Bom, agora que já se sabe o valor da abstenção e uma vez que só falta meia hora para se saberem as projecções finais dos resultados eleitorais, eu vou explicar o resto. Primeiro, cozi os ovos de codorniz e já lhes tirei a casca. Depois, piquei finamente as ervas. Cá em casa havia salsa, coentro, alho francês e cebolinho. Pois sim, foram as que utilizei, e cozinhei-as em margarina vegetal. Depois de cozidas juntei natas e, voilá, os ovinhos dentro e tudo dentro (de novo) do frigorífico para irem para a mesa mais fresquinhos.

Uma vez que os camarões foram cozinhados há algumas horas antes e já estão na temperatura ideal, vão ornamentar a travessa.

Está tudo preparaducho (os alhos, o piri-piri, o azeite e os coentros) para as amêijoas à Bolhão Pato (a Anita prefere amêijoas com esparguete à moda de Olhão, mas gostos não se discutem).

O vinho é Alvarinho. Uma vez que não tive tempo ($$$) para comprar Palácio da Brejoeira, vai mesmo Deu-la-Deu que é muito jeitosinho.

As uvas, de sobremesa, são moscatéis. E também há queijo de Idanha-a-Nova. São servidos?

Bom apetite e vamos todos torcer para que os nosso partidos tenham bons resultados. Eu por mim acho que o Benfica vai ganhar a Atenas na 5ª feira. É cá uma fé.

1492. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - VII

Aaaaahhhhh!, é verdade, vou cozer os ovos de codorniz. Já volto.

1491. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - VI

O doce está pronto e, dizem cá em casa, delicioso. Ontem fizemos um jogo de prognósticos. Ele era o pêésse com tantos, o pêpêdê não sei quê, a cdu talvez, o portas não sei quantos e o bloco de esquerda coiso e tal. Eu sempre disse que o Benfica ia dar cinco e não me enganei.

(Às vezes ponho-me a pensar porque é que as eleições, vá lá pelo menos o dia de fazer doces não é às terças-feiras)

Sentas-te me ao colo e eu te afago

Os castanhos cabelos, cor de mel,

E beijas-me a boca doce, és o meu lago

Onde navega lento o meu batel.

E nesta viagem de doce calmaria,

Numa tarde de açúcares e vapores:

Embriago-me em teus supremo-odores

E amar-te é mais doença que mania.

E se um dia o destino nos desunir

(numa atitude que adjectivo, ordinária)

Não te esqueças que na hora de partir

Há lugar pró meu livro de culinária.

1490. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - V

Acabei de chegar da Assembleia de Voto. Papelinho na urna, missão cumprida. O dia está quente e a tarde ainda mais. Regressei a casa, pus-me à vontade e, já na casa de banho depois de umas chapadas de água no rosto ouvi uma voz:

- Cara feliz hein?
- A quem o dizes.
- Acabaste de fazer amor não?
- Hein? Não te estou a perceber.
- Não te faças de novas. Estás mesmo com aquela carinha de quando a coisa te corre bem...

Vê-se mesmo que este meu espelho nunca votou.

1489. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - IV

Eu sei que é chato vir aqui em dia de eleições escrever um Lunch Time Blog. No entanto, não posso perder a oportunidade de vos dizer que quando convidei o Schubert para ir connosco ao restaurante, ele me respondeu que não trocava um dos seus pratos de ração por uma dourada de aquacultura a saber a soja. Olha quem fala!

1488. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - III

A minha cunhada trouxe-nos bué de abóbora. Mais logo, ao som da informação sobre a afluência às urnas, vou fazer doce. Fui ao supermercado comprar nozes mas aquilo estava cheio que nem um ovo. Fiquei aqui a pensar se hoje será dia de todos fazerem doce de abóbora com nozes.

1487. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - II

Resolvi fazer a barba. Assim vou mais limpinho votar e nem pareço um perigoso esquerdista nem um Rão Kyao ou Dr. House com a barba de três dias. Pesei-me e continuo tão gordo como ontem. Já tomei café e a Igreja Evangélica que fica mesmo por debaixo do meu prédio (não vos tinha dito que tinha aberto mais uma, mas já são 5 na minha rua) já iniciou os cânticos. Desta vez não me acordaram. Bem feito!

1486. As minhas eleições, minuto a minuto (ou quase) - I

Acabei de me levantar e já lavei os dentes. Não sei se faça a barba ou não.

quinta-feira, setembro 24, 2009

1485. On the rocks

Entrei no quarto e vi-a com aquele sorriso lindo que me fazia sempre quando eu chegava. Bem sei que naquele dia regressei um pouco mais tarde mas, de facto, tive um dia muito agitado. Tão diferente e tão estranho que, ao contrário do que era habitual, resolvi relatá-lo, enquanto me despia. Tirei primeiro os sapatos e arrumei-os como habitualmente. As rotinas estão-me no corpo. Depois abri o botão da camisa, junto ao pescoço e saí para preparar um whisky. Se ela não estivesse deitada era ela quem mo prepararia. Gostava de ganhar um beijo de lábios frios de gelo, doce e prolongado, derretendo o cubo, num abraço apertado e terno. Depois pendurei o casaco nas costas da cadeira do quarto. Normalmente é ela que o pendura enquanto eu a aperto por detrás, dificultando-lhe a tarefa e ela me olha com um olhar cúmplice por cima do ombro ao mesmo tempo que dou uma gargalhada e desaperto o nó da gravata. Continuei a contar-lhe o meu dia, mas ela nada me respondia. Com aquele sorriso não poderia estar amuada com certeza. Estaria no mínimo a ser sarcástica, mas não era esse o tipo de expressão que fazia. Tirei as calças, foi à casa de banho e molhei abundantemente o rosto. Lembrei-me, entretanto de lhe dizer que encontrei esta manhã a descer no elevador, o António, o filho da D. Gina de quem ela gosta tanto e lhe oferece rebuçados e cromos. Tirei a gravata e arremessei a camisa para o cesto da roupa. Bebi de um gole o resto do whisky, bochechei e gargarejei com o eterno elixir de menta e enfiei-me nos lençóis. Já nem lhe iria falar do almoço que tive com o Dr. Gregório quando um estranho arrepio me percorreu o corpo. Toquei-lhe de novo. Não havia dúvidas, estava gelada. Olhei-lhe o rosto e apercebi-me de que estava morta. E no entanto continuava a sorrir-me.

Foto de David Le Beck via Imagens

sábado, setembro 19, 2009

1484. Lunch Time Blog

Não me pareceria descabido se hoje vos viesse falar da óptima feijoada de choco de com camarão, que comi no café da minha sobrinha Sofia e do arroz doce feito pela minha cunhada. No entanto, e embora o repasto estivesse de estalos, não é exactamente isso que me leva a fazer este post. Há quem ocupe o tempo de almoço a comer e há quem, de vez em quando, tire uns minutos ao dito cujo para tratar de alguns assuntos pessoais. Vejam bem que o meu filho pensou, ontem, em ir renovar a carta de condução. E se o pensou assim o fez. Teve de calcorrear 3 locais diferentes da cidade, usou os transportes públicos e para obter a carta de condução, de permeio, teve ainda uma consulta de optometria para certificar da sua capacidade em termos de visão. Isto tudo demorou-lhe cerca de uma hora e meia que incluiu também a burocracia e a execução física da carta. Ainda assim esteve cerca de 5 minutos à espera da entrega da dita. SIMPLEX!!! Pois, mas isto foi na Suiça, em Lausanne e não propriamente aqui. Aqui seria cerca de dois anos, perdão dois meses, também não exageremos.

PS. O Schubert, hoje na brincadeira com a dona deu-lhe uma dentada. Ficou de castigo e não foi connosco aos chocos. Ficou a ração e é bem feito!

Foto retirada daqui do blog saboroso

sexta-feira, setembro 18, 2009

1483. Escadas


Fetiche, prazer, ilusão, vertigem. E quanto mais altas mais atractivas. Era o abismo? Era o desejo? Chegou a fazer amor nas escadinhas da Madalena, no último degrau, numa noite de Verão sem brisa, pelas quatro da manhã. E também no escadote lá de casa enquanto trocava as roupas de primavera/verão com as da estação anterior. Na praia, nas escadinha de acesso ao areal, quando o sol se acaba de pôr e os últimos veraneantes do dia ainda restam na paragem do autocarro. E os seus olhos riam, não sei se depravação ou cumplicidade quando me contou que fez amor com um peregrino nas escadarias do Bom Jesus. Fui visitá-la à clínica psiquiátrica onde foi internada e levar-lhe algumas fotos de escadarias, que recolhi aqui e além, depois de ter sido apanhada em flagrante a fazer amor com um bombeiro no alto de uma escada Magirus.

Foto PreDatado©, 2008

quarta-feira, setembro 16, 2009

1482. Por aí

  • A criança entrou no restaurante pela mão da mãe. Virou-se para ela e disse: “Mãe, quero ir mijar”. Aos 4 anos de idade talvez ainda vá a tempo de aprender.
  • Ontem na TVI24 os candidatos dos cinco maiores partidos, à Câmara Municipal de Almada, tentavam discutir os problemas do Concelho. Tentavam porque a presidente em exercício, candidata da CDU, Maria Emília Sousa, não deixou. Interrompeu sempre, sublinho sempre, mal-educadamente todos os outros, num estilo de mercado que já não se usa. Talvez já não haja tempo para aprender.
  • Agora para uma coisa completamente diferente. O facto de este vosso servo vos servir também Volúpia não deixou de produzir Guerra de Travesseiro. São coisas completamente diferentes e a Janette ficaria brava se alguém ousasse confundi-la.

segunda-feira, setembro 14, 2009

1481. Volúpia

Quase inevitavelmente a ideia só poderia ter sido de quem escreve e de quem publica os mais bonitos trechos e as mais bonitas fotos com aquele voluptuoso sabor a morangos maduros, a Madalena Palma. Mas a Mad não se ficou apenas pela ideia, pôs também mãos à obra e criou um novo espaço onde a volúpia passou a ser a rainha. Tal como ela disse ontem no seu blog, estão muitas arestas por limar e vários conteúdos por preencher mas mesmo assim já vale a pena começar a visitar este espaço. Aqui este vosso amigo, tem a honra de ser um dos colaboradores do Volúpia, onde, deixa para trás o pseudónimo e escreve sob o seu próprio nome. O texto Pulsos é assim da minha autoria. Outros se seguirão. Quanto à Madalena, os meus sinceros parabéns. Quanto a vós, amigas e amigos leitores do PreDatado comecem já a correr para lá.

Foto m S descaradamente roubada ao Volúpia

PS. Como o Volúpia é para maiores de 18 anos este post deve ser entendido como uma recomendação ao "meu público" adulto.

quinta-feira, setembro 10, 2009

1480. O ambiente agradece

A minha médica pediu-me este mês uma bateria de análises. Rotina para quem já foi anémico, tem o colesterol elevado, os indicadores hepáticos no limite, o ácido úrico a rasar a trave e o receio, dados os antecedentes familiares, de que possa vir a ser diabético. Estas análises faço-as normalmente todos os anos (só repetindo aquelas que possam apresentar valores suspeitos, em outras periodicidades), mas eu deveria exigir que uma dela fosse obrigatória pelo menos de 15 em 15 dias. Trata-se daquela que obriga à recolha de urina 24 horas que, por inerência e desconforto do transporte do recipiente as ditas 24 horas, de cá para lá e de lá para cá, me obrigam a, praticamente, não sair de casa, ou, se sair, não me distanciar muito e entrar mais apertadinho que muitas virgens, vocês sabem o que eu quero dizer. E porquê, se é assim tão restritivo e até ditatorialmente asfixiante da liberdade individual, porquê, repete-se, ter de fazer essa análise ao xixi cada 15 dias? Pois bem: se se mija para o frasco não se suja a sanita, não é? E se não se suja a sanita não se tem necessidade de descarregar o autoclismo, óbvio. E durante 24 horas, o ambiente agradece. Alguém conhecia esta minha costela ecológica?

PS. O não andar a escrever diariamente no meu blog prende-se com vários factores que merecem uma explicação pública. Um dia destes farei um post com os vários items. Ou não.

segunda-feira, setembro 07, 2009

1479. E portanto, um véu

Efeméride

E portanto, ali estavas à espera

E eu apareci possessivo e te tomei

Te quis minha.

E portanto, ali estava, eu, à espera

E tu apareceste possessiva e me tomaste

Me quiseste teu.

Aceita? Sim, aceito.

Aceita? Sim, aceito.

E nos deitamos.

E portanto, tu me chegaste

E eu te despetlei, flor.


Foto PreDatado

sábado, setembro 05, 2009

1478. Se souberem quem queira...

(Sobre o post do dia 26). Agradeço a atenção prestada ao texto do post e as informações deixadas em comentários. Decidi fazer a entrega na AMI em Almada. Lá dei umas voltinhas à procura da rua mas não foi tão difícil assim. Ficou tudo em boas mãos. Um grande sorriso para vocês todas e todos, minhas amigas e amigos leitores deste blog.

sexta-feira, setembro 04, 2009

1477. O meu mês eleitoral


Vamos ver se eu sei dizer isto. Para mim existem dois tipos de poder: o económico e o político. Na generalidade, nas democracias europeias do tipo da que temos em Portugal, pertence à Direita o poder económico e pertence à Direita ou à Esquerda, conforme a vontade popular, o poder político. Daí que eu considere, logo à partida, uma desvantagem das esquerdas neste tipo de regime e, pior ainda, quando o poder, estando nas mãos da esquerda (ou auto-intitulada esquerda), esta o desaproveite e exerça esse poder com políticas de direita. Isto é o que eu penso da governação do Partido Socialista dos últimos anos, mas será o povo português a fazer esse julgamento, não antecipo resultados, apenas dou opiniões. Quando posso.


Ora, não tendo eu, pelo que disse acima, em muito boa conta esta governação socialista que agora finda acharia inadmissível se o PS tivesse alguma coisa a ver com a decisão da administração da TVI em suspender o Jornal Nacional das 6ªs-feiras. E porquê? Porque acho que a administração da TVI exerceu o seu poder (económico), como exerce esse poder qualquer administração de qualquer empresa de gestão capitalista. A administração de uma empresa nomeia e exonera direcções, define e implementa estratégias, valida ou invalida as tácticas de actuação. E isto foi o que fez a administração da TVI. Este apanágio das empresas, suporte aliás do capitalismo e sempre apoiado pela Direita, não é válido para empresas de comunicação social? Não é válido para a TVI? Ou terá sido mais um golpe da direita para tentar tirar (ou recuperar) o espaço político que o PS nestes últimos quatro anos e meio lhe roubou? E este alarido do PSD e CDS é o quê?

terça-feira, setembro 01, 2009

1476. Início do mês político.

Depois de ter ouvido hoje o Eng.º Sócrates, nosso Primeiro Ministro, fiquei com um desejo tremendo: ir viver para Portugal.

quarta-feira, agosto 26, 2009

1475. Se alguém souber quem queira, mande-me um e-mail

O meu sogro era uma pessoa humilde de cuja vida não faziam partes grandes manifestações sociais. Casamentos, baptizados, festas de aniversário, um ou outro convívio entre amigos e funerais, quase que poderia resumir assim a sua participação na vida colectiva. Ah, é verdade, o meu sogro votava e não dispensava de se apresentar de fato e gravata no cumprimento do seu dever cívico. Poderíamos assim pensar que, para tão resumidas necessidades, não lhe fosse necessário ter um guarda-roupa por aí além, mas na verdade a coisa não era bem assim. Só dos genros e filho “herdava” em cada estação uma substancial quantidade de camisas que, ora porque tinham passado de moda, ora porque um colarinho menos apropriado não lhes assentava bem a gravata, ou ainda porque genros e filho decidiam engodar mais do que os botões das ditas camisas suportariam. Mas calças e fatos tinham o mesmo destino pelas mesmas razões ou até outras. Se acrescentarmos as pouco originais prendas de aniversário e Natal com que a família o brindava, ele era pulôveres, ele era camisas, ele era peúgas, ele era ceroulas, quando o meu sogro faleceu deixou algumas dezenas destas peças em roupeiro. Pois minhas queridas leitoras e meus queridos leitores, vocês nem imaginam a dificuldade que nós cá em casa temos tido para doar este, modesto mas asseado, espólio. Nem lares, nem asilos, nem igrejas, nem mesmo particulares necessitam de nada disto. Tenho mais medo de que seja presunção do que pobreza envergonhada. Esta última, eu compreendo, a primeira entristece-me.

Esta foto publicou o LFM há mais de dois anos no blog dele. Fui lá e pifei-a mas não sei quem é o autor.

segunda-feira, agosto 24, 2009

1474. Fado - uma das minhas paixões

Na verdade não quero que pensem que estou aqui a dar graxa, a donner de la graxe, giving graxation, geben graxichen ou a rasgar seda (mania de complicar né mesmo, mermão?). Eu sei e já tenho afirmado que O PreDatado é o blog que tem os melhores leitores do mundo e, por certo ninguém me desmentirá, também os mais cultos. Obviamente que nem todos terão o mesmo grau de conhecimento em todas as matérias mas é esse ecletismo de cognição, atrever-me-ia mesmo a designar por esse boião de cultura e, se não considerarem exagero meu, até me referiria a esse mix de experiências civilizacionais que honra e prestigia este humilde blog que foi criado no intuito, único e exclusivo, de ser pasto para alguns dos vossos momentos de ócio, ou quando já não houver mais livros do tio Patinhas para ler na prateleira do móvel livreiro da casa de banho, ou ainda para quando acaba o programa da Marta Croft no TVI24.

Posta que foi a brevíssima introdução supra, eu sei que vós merecíeis muito mais, vamos lá ao que interessa mesmo e sobre o qual eu quero a vossa ajuda. Lucília do Carmo foi uma tremenda fadista que malogradamente faleceu há já 10 anos atrás. Dentro da sua vasta discografia consta o fado Loucura. Neste fado, de letra lindíssima, Lucília do Carmo cantava o seguinte refrão:

Chorai, Chorai

Guitarras da minha terra

O vosso pranto encerra

Minha vida amargurada.

E se é loucura amar-te desta maneira

Quer eu queira quer não queira

Não posso amar-te calada.

Ora ontem assisti a um espectáculo da linda Ana Moura (vide PS) onde esta cantou Loucura que eu conheço como Loucura (sou do Fado) cuja primeira vez que o ouvi foi na voz de Carlos do Carmo, filho de Lucília do Carmo e que, no entanto, Ana Moura atribuiu a Lucília do Carmo. Embora utilizando o mesmo arranjo musical, a letra é completamente diferente sendo que o refrão é:

Chorai, Chorai

Poetas do meu país

Troncos da mesma raiz

Da vida que nos juntou.

E se vocês não estivessem ao meu lado

Então não havia fado,

Nem fadistas como eu sou.

E agora pergunto eu: entre os meus leitores e as minhas leitoras há alguém que me consiga informar se o fado Loucura (Sou do Fado), este último, é mesmo da autoria de Lucília do Carmo, ou então, conhecem alguma gravação de Lucília do Carmo cantado esta versão de Loucura? Porque da primeira versão tenho eu e se ficar em branco nesta resposta até as minhas guitarras vão chorar.

PS. Ontem assisti ao concerto de Ana Moura nas festas de Corroios. Eu chamei-lhe linda porque de facto o é. É-o como mulher mas isso não vem ou caso ou se calhar até vem. Deixemos assim. Linda como fadista, pela qualidade da sua voz, pela qualidade do seu repertório, pela qualidade dos músicos que a acompanham, pelo rigor do traje, pela atitude em palco. Linda como pessoa, pela sua humildade. E é este ponto que hoje trago à colação, mesmo correndo o risco deste post scriptum poder ficar mais ou menos chato. O Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Corroios e a Comissão das Festas de Corroios (não sei se é assim que se chama) que tão boa conta costumam dar (e têm dado), do recado com uma “feira” bem organizada, variada na oferta e divertida, diga-se em abono da verdade, com espectáculos de qualidade todos os anos, a qual os do presente ano confirmam e culminam, não poderia criar uma prerrogativa entre os feirante para que, quando um espectáculo do nível e do âmbito do da Ana Moura, todas as outras barracas e locais de diversão desligassem a música? Não custava nada, pois seria pouco mais de 1h30m e escusava de se ter misturado Búzios com Quim Barreiros, Loucura com Emanuel, Aconteceu com Rute Marlene e o meu amigo João com Nelson Ned. Não fosse a humildade que enobrece os grandes e estou convencido que Ana Moura se teria recusado a cantar. Para rever. Se alguém lhe puder chegar este recadinho (ao presidente da Junta, claro), agradecia.

Foto de Lucília do Carmo retirada da net, onde consta em vários blogs e artigos a seu respeito.

sábado, agosto 22, 2009

1473. Andamos por lá perto

Vou-vos contar uma coisa mas não digam a ninguém. Aqui o Pre é um gajo de números, não fosse o tipo ligado às engenharias e às matemáticas, mas há números para os quais não está, definitivamente, talhado. Dou-vos dois exemplos simples com os quais podereis constactar essa sua não afinidade para certas conjugações algaritométicas (nem a palavra existe). Esta semana estava ele, o Pre, aqui confiante que lhe iriam sair os 74 milhões do Euroditos, os quais diga-se de passagem já pouco lhe pertenciam dada a distribuição que, previamente, fez dos mesmos e, tufas, nada de nada que é como quem diz niente. Estais já todas e todos vós leitoras e leitores, respectivamente, a pensar, os números não querem nada, mesmo nada, com o Prezinho, sem mesmo saberem que nem os números nem as estrelas pois o zerão também se aplica a esses dois algaritmozitos suplementares. O segundo exemplo tem a ver com o número de visitas de “O PreDatado”, obviamente coisa muito mais séria do que o Euromilhões, de tal forma que é preciso cuidado para dizer isto. Os outros blogs, os famosos, os dos pilantras como aqueles que andam por aí a trocar bandeiras, os dos gajos amigos dos amigos daqueles que vocês sabem e, finalmente, até os bons blogs, é num ápice. De um momento para outro pimba, tufas (outra vez) e plim, e lá estão eles, nas 10, nas 50, nas 100 mil visitas e, horrores dos horrores, a ultrapassar um milhão de visitantes em pouco mais de um ano. Cá o nosso Pre está nos seus 99.932 (número que não variou desde o início da escrita deste post até à sua publicação), que é como quem diz quase nos 100 mil em cerca uns míseros quase 6 anitos nestas andanças. E isto quer dizer muito. Quer dizer que não é qualquer merdas que vem aqui ler este blog. Os poucos que cá vêm são os melhores leitores de blogs do mundo. São poucos? Ah pois são, mas são os melhores. E mainada!

Pic from Copyright 2009 Kellene Bishop at http://womenofcaliber.wordpress.com/2009/07/20/my-wish-100000-women-strong/

sexta-feira, agosto 21, 2009

1472. Benfica TV

Inenarrável este rapazinho. Não é a primeira vez que vejo um jogo do meu Glorioso S. L. Benfica na Benfica TV e de cada vez que o faço farto-me de rir. A Benfica TV não é uma televisão privada embora seja uma televisão privada. Parece um contra-senso mas não é. Eu explico. Embora seja uma televisão privada de estatuto não é um canal de TV para ser visto à porta fechada, entre confrades que se riem muito das próprias piadas. Está inserida num pacote de oferta de um operador, com licença atribuída por Entidade Pública. Como tal deve ter, independentemente da linha editorial com a qual digo de passagem que embora não a conheça subscrevo-a porque será com certeza em defesa do meu clube, dizia eu deve ter sobriedade mas, essencialmente qualidade. Ter um relator/comentador dos jogos de futebol que não só identifica o nosso treinador como Jota Jota (eu vou assumir para mim a dor e pedir desculpa ao grande Jacinto João, ex-jogador do Vitória de Setúbal, esse sim universalmente conhecido nos meios futebolísticos como Jota Jota), como para ele faz parte da nossa equipa o Angelito (anrrelito), o Pablito, o Fabinho, o El Conejito (el conerrito), o Tacuara e para já fico-me por aqui porque daqui a pouco está a chamar Luisinho ao Luisão. Não se pode melhorar Sr. Luís Filipe Vieira? Pode-se ser Benfiquista sem ser ridículo ou não?

PS. Os ucranianos não têm nome conhecido mas ainda sou do tempo em que o Benfica foi eliminado por um tal Ajax e que toda a imprensa achincalhava o Glorioso por ter sido posto fora da Europa por uma marca de detergente. Pois bem, o Benfica deu quatro aos ucranianos do Poltrava, outros quatro poderiam ter sido marcados e o jogo foi muito bem jogado.

terça-feira, agosto 18, 2009

1471. Bem-ditismos

Quando estou de férias a última coisa que gosto é de ser perturbado com sons que vão para além do dos passarinhos, do balido das ovelhas, do rolar das ondas na areia ou dos verdadeiros sons do silêncio, propícios à reflexão, que as calmas noites alentejanas me proporcionam, enquanto refastelado em faustas cadeiras espaldares ou espreguiçadamente deitado na rede a olhar o céu e a chuva de meteoritos. No entanto, condescendo, de vez em quando, alguns minutos do meu quieto direito à paz, ao barulho e ruído que os jornais e telejornais a transtornam. Quando ouvi na televisão que Isaltino de Morais foi condenado a sete anos de prisão por uma série de crimes (roubos?) que terá perpetrado, a notícia não me aqueceu nem me arrefeceu. Retirei-me e voltei aos meus longos períodos de reflexão. Eu não sei se o tal indivíduo é culpado ou não é. Não sou juiz e além disso o Dr. Isaltino recorreu pelo que, até que transite em julgado, não sou eu quem fará coro com os justiceiros da praça pública. Mas se ele pertence à canalha então que seja condenado. Porque a canalha existe e isto não é resultado de qualquer julgamento popular. Todos sabemos (são os mais importantes e relevantes Magistrados e Procuradores que o dizem) que existe uma canalha, um bando de vampiros que nos suga o sangue a cada minuto que passa. E choque a quem chocar terão um dia de o pagar. Seja em Oeiras, em Felgueiras, em Gondomar, em Alcochete, em Lisboa ou no Porto. Um dia, quem sabe, alguém possa ter umas mãos tão castas e tão limpas que nunca se sujarão a limpar o nosso país da canalhice. Benditas sejam.

PS. Um tal brasileiro Adhemar de Barros, em tempos que já lá vão, candidatava-se com o slogan “Adhemar rouba mas faz”. Infelizmente em Portugal também existe muita gente que apoia este tipo de políticos. Que façam algo e tudo lhes será perdoado. Mesmo que o façam à conta do nosso suor, quiçá do nosso sangue e quantas vezes das nossas lágrimas. Malditos sejam.

segunda-feira, agosto 17, 2009

1470. Menininho


Eu sou exactamente como as crianças. Hoje a família ofereceu-me um leitor MP4 assim com umas funções meio complicadas para mim, mas eu tenho uns amores de filhos para quem não há botão ou tecla que não conheçam e que não saibam para que é que servem. Pois como ia dizendo, ainda não tirei os auscultadores dos ouvidos. O brinquedo é meu e pronto! O pior é se não oiço a rolha da garrafa do champanhe a saltar e o esparramo todo pela mesa. Que se lixe, haja alegria.

domingo, agosto 16, 2009

1469. Regresso auspicioso

De repente a minha mãe escorrega na banheira, dá uma queda, as dores são horríveis, o hospital é logo ali ao lado. A assistência não é rápida nem é lenta, está dentro dos tempos previstos pelo chamado Critério de Triagem de Manchester, as coisas parecem estar a correr bem. Atendida no banco de urgências foi radiografada e como tal teve de esperar o tempo razoável para que a “chapa” estivesse pronta. Não tendo sido detectada nenhuma fractura foi no entanto considerado prudente, pelos clínicos de serviço, que a mesma radiografia fosse observada pelo neurocirurgião. 13 horas e 30 minutos depois, leram bem, treze horas e trinta minutos depois foi dada alta à minha mãe com receituário de ben-u-ron (o que nem sequer se questiona). É esta a qualidade de serviço que temos, é este o SNS que nos legam os partidos do poder. E nós, lá vamos cantando e rindo…

PS. Parece que no Hospital Garcia de Orta em Almada também ainda são conhecedores do Dec. Lei 33/2009 publicado no DR no passado dia 14 de Julho. Nomeada e principalmente os serviços de segurança. Acho que a região de Almada / Seixal / Sesimbra merecia uma melhor gestão hospitalar.

quinta-feira, julho 30, 2009

1468. Vacanças

E pronto, chegamos ao fim de mais um ciclo. Bem sei que não é para todos mas a maioria dos portugueses vai de férias em Agosto fechando, portanto, nesta altura mais um ciclo. Durante um mês não há mais embirrações do chefe. Durante um mês as filas para a ponte na ida e na volta são só para aqueles que não sabem fechar o ciclo no dia exacto. Durante um mês não se vai para a caixa do Continente com o carrinho de compras a transbordar aos Domingos de manhã. É verdade, também, que durante um mês não se tem o prazer de conversar com a boazona que trabalha na secretária ao lado e esta é a época de ela ir de mini-saia até à cintura, mas algum tributo se terá de pagar. Durante um mês não é preciso ir buscar os putos todos os dias ao colégio porque as educadoras também estão a fechar o ciclo delas. Durante um mês não vou pensar se tenho moedas para um dia inteiro de estacionamento. Claro que não vou ter o Destak, o Global, o Metro de borla todas as manhãs mas quem é que precisa de ler jornais no mês fora-de-ciclo? Durante um mês não vou fazer jantar nem lavar a loiça, os outros, os que não fecham o ciclo vão poder fazer o jantar para mim. Durante um mês não há Sócrates nem Ferreiras. Mas vou andar atento ao meu redor e a tomar notas no meu moleskine. Se alguma for interessante depois eu publicarei por aqui. Oh amigo não se importa de desviar um bocadito a sua toalhinha para eu estender a minha? Obrigadinho.

PS. Apesar do Pre ir entrar em férias de Agosto não se esqueçam de vir aqui no próximo dia 17 saudar o seu aniversário e tomar uma tacinha de champanhe, ok?

PPS. Ando muito feliz com as eleições autárquicas. Aqui o meu Concelho anda todo cheio de arranjos e arranjinhos, montes de equipamento prometido e outro a inaugurar e tal. Assim é que é. Eu por mim não me importo de ir todos os anos ali à EB votar. Eleições Autárquicas anuais, já!

Foto: PreDatado©2009

terça-feira, julho 28, 2009

1467. Narzędzia


Nagenda, era assim que nos soava a palavra polaca narzędzia. Ainda hoje quando falamos desse tempo e nos referimos ao assunto é nagenda que dizemos. Já lá vão mais de 3 dezenas de anos em que nos aventuramos a trabalhar na montagem e desmontagem de pavilhões nas antigas instalações da FIL quando ali se realizava a grande exposição anual. A nós calhou-nos o pavilhão da Polónia e logo cedo, antes das 8 da manhã pegávamos na nagenda e íamos trabalhar. Narzędzia é como se diz ferramenta em polaco e eram o martelo na montagem e o arranca pregos na desmontagem as nossas principais ferramentas. Hoje em dia as minhas ferramentas são outras e n’agenda só se for (e é) na electrónica. Utilizar a internet desde antes das oito da manhã e até muito depois do sol se pôr passou a ser para mim quase tão imprescindível como comer. E se bem que em férias me costumo desligar do mundo nem sempre isso é possível para não dizer inconveniente. Vejo agora anunciar por aí, tipo “ora aqui está uma pechincha que nunca lhes passou pela cabeça” banda larga apenas a 10 Euros por 10 horas. Não tenho dúvidas que vai muita gente aderir mas eu gostava de os mandar ir roubar para a estrada porque não estou disposto a pagar 1 euro por hora para aceder à internet, quando em casa pago cerca de 50 cêntimos por dia. Eu não sou nada violento mas quando oiço este tipo de anúncios só me apetece dar-lhes com a nagenda.

sexta-feira, julho 24, 2009

1466. Ensaio sobre a beleza (interior) ou como ficar bonito para este Verão

Às vezes eu finjo que não entendo. Aliás, não é às vezes. Eu sempre finjo que não entendo. Palavra puxa palavra, conversa puxa conversa tipo pezinhos de cereja, ainda a procissão vai no adro e já se ouve o habitual, “o que importa é ser bonito por dentro”. Ah é? E isso também vale para bonita? E se vale como é que vão ser depois os piropos? Parece-me já estar a ouvir o gajo das obras na minha rua debruçar-se na plataforma, onde uns dias depois há-de ser uma varanda, gritar, Ai filha, tens um fígado tão lindo que te comia toda em iscas, ou o camionista à beira da estrada, Se os teus pulmões fossem mais sobressaídos um bocadinho quem te dava uma maré viva era eu, oh Pamela de Alfarim! O que eu gostava mesmo era de assistir às conversas nos consultórios dos cirurgiões plásticos. Doutor nem sabe o que me passou hoje pela cabeça, (…) venho trocar de pâncreas (…) já viu que lindo este no catálogo? (…) Pena é que a modelo é meio anoréctica, mas (…). Acho que quem vai ficar a perder é o governo. É que estas novas cirurgias plásticas com recibo de operação ao pâncreas devem dar para descontar no IRS. Quanto é que abaterá, por exemplo, retirar umas gordurinhas aos pulmões ou fazer uma lipo-aspiração à bexiga? A mim não me enganam, não, com essa converseta do bonito por dentro. Porque é que não dizem logo que um gajo é feio ou vá lá, para não chocar tanto, que é barrigudo? Mas não, ai Pre o que importa mesmo é ser bonito por dentro e tal, mas mesmo assim devias mandar colocar um pouco de botox nos bronquíolos.

PS. Na verdade eu sou lindo por dentro. Já fiz alguns exames, não digo quais porque isto aqui não é confessionário do padre Miguel, em que algumas micro-câmeras me percorreram as entranhas quase todas. É um espectáculo. Ah minha coisinha fofa, pareceu-me ouvir, uma ocasião, da boca de uma enfermeira.

A belíssima foto que se mostra, por dentro e por fora, é do PreDatado.

quinta-feira, julho 23, 2009

1465. Penso rápido

Não há ninguém que eu tenha conhecido que escreva tanto como o Luís. Uma vez, em casa dele, estive uma tarde inteira a contar manuscritos. Daria para dobrar a obra do José Saramago mas assim em formato Guerra e Paz. E isso eram só as chamadas obras acabadas. Contos, romances, ficção, poesia, ensaios, pesquisas e sei lá mais quantos géneros que eu, meus queridos e minhas queridas, sei pouco de literatura para distinguir. Uma vez, por graça, perguntei ao Luís porque é que ele nunca tinha apresentado uma única obra a uma editora. Respondeu-me, com muito mais graça do que a da minha pergunta, que já lhe faltava a paciência para traduzir. É o raio daquela letra com que ele escreve que, na verdade digo isto porque tenho esperanças que ele não me leia e ninguém lhe vá contar, ninguém consegue entender. Diz que começou quando estava na tropa, mas sei eu e sabem alguns outros colegas dele, que era assim mesmo que ele tomava apontamentos nas aulas (assim como que em jeito de parêntesis confessou-me que só tirava apontamentos para exercitar os músculos dos dedos e das mãos pois nunca lia nada do que anotava). Só podia ter-se formado em medicina já que na verdade tinha letra de médico e há que começar por algum lado. Já na tropa foi enviado para a Guiné e, homem do caraças, diz que foi o único período da vida dele em que esteve à beira do paraíso. Quase que foste para os anjinhos? – indagámos – Nada disso, ripostou, foi a época em que escrevia 5 aerogramas por dia. Por falar em aerogramas, foi nesse tempo que Luís conheceu a Esmeralda, sua única, que saibamos, namorada e hoje em dia sua fiel esposa. Uma mulher que lhe dedica tanto ou tão pouco carinho que todos os dias lhe arruma a papelada toda no escritório enquanto no hospital ele se entretém a passar receitas. Mas eu ia falar dos aerogramas. Um dia, quando no início se começou a corresponder com o Luís, entrou-me pela farmácia dentro, passe o pleonasmo mas é só para dar ênfase, a Esmeralda aflita porque não percebia patavina do que estava escrito no aerograma. Aviei-lhe então um xarope para a tosse, uma caixinha de Saridons e duas embalagens de compressas.

Eu sei, amigas leitoras e amigos leitores que do Pre ou Sir Pre, título incluído que tanto custou a adquirir, se espera sempre algo sério, erudito e muito bem elaborado, mas eu hoje estava danadinho para contar uma anedota.

Foto daqui

terça-feira, julho 21, 2009

1464. Redondinhas

Algumas bolas fizeram e fazem, fizeram e já não fazem, não fizeram e agora fazem parte da minha vida e algumas delas da vida de todos nós. Hoje não me debruçarei exaustivamente por um tema tão aliciante sob pena de tornar a escrita redonda e seja por via de um paralelo ou quiçá de um meridiano esta ir sempre parar ao mesmo sítio. Aliás uma bola é o único objecto que faz jus ao velho e popular dito “não tem ponta por onde se lhe pegue”. Da bola e bolas que chutei desde garoto uma delas engoli. A minha médica diz-me que eu devo tentar reduzir o perímetro abdominal que é uma forma eufemística de me dizer que nem o basquetebol se joga com uma bola assim. Outras há, as de Berlim (abro aqui um parêntesis para vos dizer que nunca comi bolas de Berlim tão boas como as que comi em Berlim – eu não vos avisei que este tipo de escrita é redondo?) que se vendem na praia. Este ano tive já oportunidade de estar em praias algarvias e o som agora é quase exclusivamente Bolinha de Bérrlim, com os mais variados sotaques dos nossos irmãos brasileiros (e irmãs que aqui não mora nenhum preconceito). Por acaso também se vendem nas pastelarias, mas não é a mesma coisa (agora fiquei zon). Uma vez vi vender bolas numeradas em Tóquio. Explico. Havia umas casinhas onde se formavam longas filas – saudade de escrever bichas, mas sou lido por muito pessoal do lado de lá que não iria entender – para vender bolas de cortiça de diferentes tamanhos e numeração. Estranho negócio este, pensei eu, só pode ser coisa de orientais, voltei a pensar porque às vezes eu penso mais do que uma vez. Como o jogo a dinheiro era, talvez ainda seja, proibido no Japão fora dos casinos, o fruto do jogo clandestino era pago em bolas numeradas. Alguém nessas casinhas exercia um negócio, perfeitamente legal, de comprar bolas numeradas. E dizem que os portugueses é que são desenrascados. Por acaso eu acho que somos é uns pacóvios de primeira. Está bem que foi no século passado mas a coisa tem uns 20 a 25 anos. Andou a D. Branca a comer as papas nas cabeças de muitos portugueses com uma das maiores vigarices do século em Portugal que até deu direito a uma telenovela em horário nobre e tudo e parece que se esqueceram depressa continuando a cair no conto do vigário agora com uma D. Aurora. Ainda se fosse uma aurora boreal. Bolas que são burros. Ou serão apenas uns cabeças de abóbora muito redondinhas?

Foto daqui

domingo, julho 19, 2009

1463. Ponto de ordem

Tenho uma vaga ideia de que o primeiro ponto que conheci foi o Ponto Azul. A minha tia Felismina tinha um rádio Ponto Azul e a minha prima Helena, a primeira pessoa a ter televisão na família, se a memória não me falha, tinha uma Ponto Azul também. A partir daí os pontos passaram a fazer parte da minha vida quotidiana tão inevitáveis que alguns ainda me causam pontos de interrogação. Um tio meu foi ponto num teatro de revista em Lisboa, a minha mãe fazia doces onde era presença frequente o ponto caramelo, o ponto pérola ou o ponto estrada e mais tarde, era eu assim já espigadote e com pontos negros no nariz e nas bochechas, além do acne juvenil, a minha namorada, quando eu lhe punha sorrateiramente uma mão na perna, picava-me com a agulha com que se entretinha a fazer ponto cruz. Entretanto já eu me acostumara a ir espreitar o livro de ponto entre duas aulas a ver se a professora de História me tinha marcado falta de atraso na única aula que começava antes do meu autocarro chegar, a estudar que nem um marrão para o ponto de química, ou a não perceber nada dos códigos nos cartões de ponto quando comecei a trabalhar na Lisnave. Ficaram aqui muitos pontos por referir como é, por exemplo, o caso das sextas-feiras, dia da semana feito de propósito para os nossos deputados irem lá picar o ponto e pirarem-se para as suas santas terrinhas ou então para Paris ou Nova Iorque que são pontos de encontro muito mais chiques. Mas eles podem porque de quatro em quatro anos lá estamos nós a votar que é como quem diz a marcar o ponto para os legitimarmos. Não sei porque é que falei nisto tudo se a minha intenção era apenas falar nos ecopontos. Os ecopontos são aquelas caixas de plástico grandalhonas que povoam os nossos bairros residenciais e que vieram resolver todo o problema do consumo e exaustão de recursos do planeta. Basta reciclar. Há-os para quase todos os gostos, para embalagens de muitas espécies sendo que, algumas embalagens têm mesmo pontos especiais para elas, que o digam as de vidro e as de cartão. Mas tal como os nossos relvados, sejam os de ao pé da porta que apenas tentam mitigar os efeitos dos aglomerados de betão onde vivemos, sejam os de jardins e parques públicos, se tornaram ponto obrigatório onde madames e cavalheiros levam os seus canitos a defecar (eu por acaso até ia escrever cagar mas, no ponto em que vou, achei feio), também os ecopontos rapidamente se tornaram depósitos dos mais variados lixos. Está-se mesmo a ver qualquer dia as ruas cheias de sofaponto, vesturióponto, movelóponto, frigorificoponto, televisãoóponto e outros objectópontos até chegarmos ao ponto em que um engraçadinho se lembre de intalar o sograóponto. O que nós somos todos é uns grandes pontos e ponto final! (ponto final, ponto e vírgula, que isto é um ponto de exclamação).

Foto: Predatado

sexta-feira, julho 17, 2009

1462. Brilhos


Já não são de sorriso castanho-escuros e maiores que azeitonas como quando antigamente faziam a delicia das moças da região, Só namoradas teve mais de vinte, diz a mulher quando disso se fala, mas continuam a brilhar como antes quando de uma boa brejeirice ou quando nos relembramos, em contos ao serão, do tempo em que as jovens vizinhas, já ele homem casado, o iam fazer levantar da cama para as acompanhar ao chafariz. Hoje é com alguns “papinhos” e outras rugas que sorriem os olhos do Ti Augusto quando de antigamente falamos também das pescarias, não a pesca às namoradas, mas as pescas no rio, à linha e quando relembra que o pai dele, às vezes já chegado a casa com o grão na asa em noite de sexta-feira, lhe dizia, Augusto amanhã vamos aos polvos, Sim pai, que respondia só para o não contrariar. E é com o mesmo brilho nos olhos, talvez de uma lágrima sentida ao recordar o velhote que o Ti Augusto conta que às seis da manhã em ponto o pai o ia acordar, parecendo mais são do que um pêro, Então vens ou ficas? E lá iam eles aos polvos e recordávamos também as vezes que ali no rio, onde há muitos anos namorou uma moça nas rochas sentados a verem passar os barcos (diz que ainda se lembra dos primeiros vapores do Terreiro do Paço) e a roubar beijos que depois nunca os devolveu, relembrávamos, contava eu, que xarroco, pata-roxa, safio e cação, abrótea que na gíria dos pescadores dali chamavam governo-da-casa, tudo ali se pescava, se possível fosse, numa só manhã. De conversa de pescadores, disse-lhe eu, só faltava o Ti Augusto dizer que pescava também os pimentos, os tomates e as cebolas para completar a caldeirada. Isso não, isso havia com fartura por essas quintas a fora e os olhos voltaram a brilhar enquanto se deliciava com mais uma garfada do ensopado de enguias.

Foto PreDatado©2008

quinta-feira, julho 16, 2009

1461. Dominó!


Mestre Jorge, é assim o nome por que ainda o conhecem. Há muitos anos que encostou a fragata mas nunca saiu da beira do rio. Hoje entretém-se a tomar uma cervejinha na Taberna da Lota, onde o Chico já não tem mais rol para assentar os fiados, e a jogar ao dominó. Como o mestre Jorge, muitos outros abandonaram as fragatas e as faluas há já muitos anos. O Josué mantém a dele mas apenas para passeios turísticos no Tejo e o Ti Garoupa, que costumava alugar a muleta aos fins-de-semana para pescarias junto ao pilar, tem-no a doença emagrecido e a vontade de olhar o rio esmorecido, por mor daquela pontada que não lhe sai do meio das costas. Foi Lídia, a filha, quem nos confidenciou, tá acabado o velhote, na sexta à noite quando foi comprar os três decilitros de tinto que lhe durarão toda a semana. Um dia ele se irá primeiro do que a pinga. Meta no rol se faz favor, sô Chico, que no fim do mês fazemos contas. A fábrica de componentes, primeiro alemã e agora dos japoneses, fechou há quase duas semanas e Lídia ainda não tinha arranjado nada. Mestre Jorge, no seu tempo de rapaz ainda chegou a andar embeiçado por Lídia, que era um bom par de anos mais nova. Consta até que fizeram amor no “Lagameças” e se ouviram os gemidos, alguns dizem os ais, de Lídia, numa noite de quarto minguante e calmaria. O Ti Garoupa é que não gostava nada da história, racho o primeiro a quem ouvir dizer isso, mas a sua cumplicidade com Jorge a quem tratava quase como filho não dava margens para muitas dúvidas. Mestre Jorge continua solteiro porque a vida do transporte do sal e de atravessar pessoas para a outra banda nunca lhe deu muito tempo para saias. Dizia ele, porque as más-línguas do cais diziam que o “Lagameças” gemia muitas noites e não era só em quarto minguante. Jogou a última pedra do dominó e puxou uma baforada do cigarro sem filtro. A cerveja estava no fim.

Foto: PreDatado©2009