quinta-feira, fevereiro 05, 2009

1358. Histórias de viagens (iii)


Einbahnstraße

Falo com alguma fluência francês, leio sem muita dificuldade o inglês e, entendo os nuestros hermanos, como eles, na generalidade, não me conseguem entender a mim. A propósito, quase toda a gente tem a mania de dizer que os espanhóis não nos entendem porque não querem e não fazem o mínimo de esforço. De facto não concordo com isso e vem-me à ideia uma história com um amigo, colega da delegação madrilena da empresa onde trabalhavamos. Como a empresa era francesa, encontrávamo-nos cinco a seis vezes por ano em reuniões em Paris onde, só se falava francês. Nós que, durante mais de seis anos, sempre conversamos em francês, propusemo-nos falar cada um na sua língua mãe, eu em português e ele em castelhano, é claro. À mesa do jantar, o António não tirava os olhos do meu rosto, talvez tentando discernir no movimento dos lábios aquilo que os ouvidos não conseguiam entender. Pouco mais de cinco minutos depois, ele pedia-me encarecidamente “Biquetór por favor volvemos a hablar en francés porque yo no te entiendo nada”. Obviamente que ele não fez de propósito e eu reconheço-lhe o esforço que fez em tentar. Já tenho contado isto mais de uma vez e insistem em dizer que não, que na maioria são mesmo preguiçosos e até presunçosos. É nesta altura que me dá ganas de defender os nossos vizinhos e atiro-lhes com desdém una crema de afeitar sin brocha ou digo-lhes que hay la sospecha de que hay sido un coche trampa que tenga explotado. Se não souberes castelhano estás hodido que não vais entiender nada. Adelante.

Nem sei porque andei a vaguear na história anterior se não era nada disso que fazia tenção de referir na minha crónica de hoje. Talvez para dizer que se há tanta diferença nas línguas que têm as mesmas origens imaginemos as que basicamente têm raízes bastante diferentes como por exemplo, o alemão. Na verdade não sei mais do que uma meia dúzia de palavras em alemão incluindo, Telefunken e Vokswagen.

Ora a verdade é que, por instinto ou por verdadeiro sentido de orientação, sempre que me encontro em país estrangeiro vou fixando referências para poder voltar ao local de partida ou a outros locais a que me interesse voltar. E com tanta confiança de que os pontos de referência que normalmente tiro me valem praticamente em todas as ocasiões, quando me perguntou se eu saberia regressar ao hotel, depois de ter constatado de que me tinha esquecido da planta da cidade, respondi à minha mulher que apesar da sua localização ser meio incaracterística, sem uma igreja, um teatro ou um restaurante típico por perto eu não me esqueceria do nome da rua adjacente, que aliás fiz questão de fixar. Bastaria encontrar a Einbahnstraße e o hotel seria logo ali ao lado. Alguns minutos depois, com ar trocista, exclamou: “Que bom! Temos o nosso hotel espalhado por toda a cidade” E foi-me apontando pelo caminho várias Einbahnstraße iguaizinhas à ”minha”. Foi um fartote de rir, mas não foi por isso que deixamos de encontrar o hotel que ficava mesmo ao lado daquela pequena RUA DE SENTIDO ÚNICO.


Foto daqui

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